A primeira camélia de maio

Hoje ao amanhecer encontrei a primeira camélia de maio, no jardim silencioso. Céu encoberto e cinza, vento suave e frio de um outono já com traços de inverno.
Sentimentos diversos despertos por uma flor…
Nostalgia… pois estavam lá presentes, no indefectível jardim da minha infância/adolescência, camélias brancas, pontuando as entradas da casa…São vários os livros que vez, por outra, ainda, hoje, folheando, encontro entre as páginas, prensado: um ramo, uma flor ou uma camélia de outros tempos, marcando um trecho de um romance, um verso de um poema. Resquícios de uma outra vida…
Resistência… isso mesmo, resistência e augúrios de liberdade em um período de tantos distanciamentos e incertezas, em que um vírus leva o mundo a refletir e vivenciar a fragilidade e as escolhas da humanidade.
E, eis o significado da camélia…. em um mês em que temos a data que lembra a “abolição da escravatura” no Brasil, pois, a camélia foi o símbolo do movimento abolicionista! Era uma espécie de código de identificação entre os que a usavam, como apoio declarado aos ideais de liberdade…
E me vem a clara certeza, mais uma vez… tudo isso vai passar… as dezenas e dezenas de botões de camélias irão desabrochar … e sairemos mais fortes, livres e (esperamos) melhores, com maior compreensão sobre o impacto das nossas decisões e a relevância das verdadeiras “prioridades” em nossas vidas.

“Desistir? Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério. É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas, mais esperança nos meus passos do que tristeza nos meus ombros, mais estrada no meu coração do que medo na minha cabeça” – Cora Coralina.

Rubia Martoni – 7 de maio 2020

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